Aquelas palavras haviam me atingido com uma precisão fora do comum e logo em seguida um sentimento de arrependimento começou a aflorar em mim.
Agora eu entendia que nós dois compartilhávamos de um coração mofado, a diferença é que ele tinha consciência disso e eu não.
Começo a pensar se tudo aquilo havia acontecido com aquele garoto magrelo, que escrevia aquelas crônicas que me descreviam tão bem, ou se tudo aquilo não passava apenas de um fruto da sua imaginação...
Compreendo agora, depois de tanto tempo, o que ele sempre quis dizer: Todas as pessoas tem uma forma diferente de amar.
No fim ele sempre falou de amor, na verdade ele sempre falou de amor!
Eu que apenas não conseguia enxergar isso. Talvez ele fosse bem feliz, percebo que ele sempre colocava uma pitada de amor nas coisas mais bobas, nas mais complexas,nas mais nobres, o amor estava sempre ali, o rodeando por todas as partes. Não naquela dosagem grande e enjoativa, talvez por isso que eu não conseguisse enxergar, pois queria tudo demais.Eu pecava pelo excesso.
Notar isso me da uma pontada de aflição.O problema não estava na falta de amor, mas sim na capacidade de entende-lo e de aceitar que diferentes corações tem formas diferentes de dizer eu te amo.
A minha forma de amar não era a mais nobre, ou a mais correta. - Naquele momento senti uma raiva de mim mesma e até daquele garoto magrelo.
Porque ele havia aberto meus olhos justo agora que não havia mais o que fazer! A incompreensão do meu coração acabou por afastar aquele Homem de Lata...
Por fim acabo caindo em si, o que aquele garoto podia fazer? Ele só estava executando sua difícil missão de levar uma mensagem que pudesse ser como uma luz ou um mantra. Outros corações ainda poderiam ser salvos.
O meu coração ainda poderia ser salvo?
Sinto uma pontada de inveja dele, colocar uma pitada de amor em tudo faz com que as tristezas sejam recuperadas de forma mais rápida, e se for verdade que tudo que você da volta em dobro, então, realmente, ele é um cara de sorte.
Entendo agora que o meu Homem de Lata não havia me amado 'errado', ele apenas me amou. Do seu jeito, do único que sabia.
Olho para os lados em busca de uma flor ou um guarda-chuva que me confortem e façam com que eu encontre minhas próprias respostas, mas não os encontro.
A vida não era uma crônica, mas aquelas crônicas acabavam se tornando um pouco da minha vida. Decido assim sair porta a fora, não chovia, mas eu esperava que aqueles raios de sol também pudessem carregar o mofo que existia em meu coração e que finalmente eu pudesse ver o amor em suas faces mais simples.